quarta-feira, 29 de junho de 2011

GALOPE.

Galope

Um retrato.
Um quadro a ganhar movimento.
Fulgura no horizonte um sol vermelho
tonalizando de carmim a todo ambiente,
gerando sombras em meio à imagem crepuscular.
Muitas sem movimento 
e uma única a mover-se.
Silhueta negra,
homem montado em cavalo.
Dourados tons dos raios solares ocultos nas nuvens.
O céu parece arder em fogo. 
O vermelho abrasa o cinza.
O bater dos cascos. Forte galope. 
A agitação cardíaca.
Desabalada carreira, 
não sabe se está em fuga 
ou se busca encontro.
Chicotes de luzes,
as tensões a esporearem o corpo,
o domínio dos arreios.
Os freios estão quase que soltos,
a fúria dos dentes brancos.
A potência da força, 
o impulsionar nervoso dos músculos.
Debatem-se homem e animal. 
Companheiros ou adversários.
Obstáculos à frente. 
Retira-se da cintura reluzente espada.
O brilho da lâmina, 
o movimento agressivo de mãos e braços,
podando os entraves do caminho, 
abrindo trilha para poder passar.
O coração abastecendo as vasos, 
o sangue novo despojando o velho.
Rompem o vento 
que quer impedir o trepidante galope.
No confronto não existe ódio, 
mas apenas força obstinada.
Uma enérgica direção 
onde busca-se, em desespero, a eternidade.
Daí esta aferrada corrida, 
numa união de corpo e alma,
numa junção tão íntima de dois seres 
que haverão de parecer um.
De tal forma que acabarão por muito andar
e por chegar ao fim da terra,
para encontrarem, então, a água. 
E não querendo o animal mergulhar,
desmontará o homem,
impulsivo, indo atirar-se no misterioso líquido,
deixando o corpo afundar
para sobreviver com o ar guardado nos pulmões.
Momento de luta, 
o enfrentamento dos limites físicos, 
o grande desafio,
para depois dominar-se 
com as rédeas da ponderação, 
decidindo emergir.
Tendo prazer ao perceber
que conseguiu sobreviver,
almejando tocar a terra.
Nadando com potentes braçadas para o leito,
sentindo a exaustão do coração.
Chegando quase sem vida à terra,
arrastando-se pelo solo que rejeitou.
Tendo, então, o seu encontro fatídico com a morte,
porém, olhando sem temor para sua face,
soltando estridente gargalhada, 
deixando-a sem jeito,
meio que envergonhada.
Preferindo ir embora e deixá-lo em paz.
E este ficou
ao lado do seu belo equino,
deixando o sol revigorar-lhe a vida.
Num cansaço cheio de realização, 
numa exaustão cheia de liberdade.

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